quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

        Ontem desci  à Baixa Pombalina, onde a moda se anuncia cobrindo o corpo esguio dos manequins, que por detrás dos vidros das montras, deitam o seu olhar fixo sobre a pobreza que por ali abunda em jeito de entretenimento.
         É o homem estátua pintado de bronze, é o cão que segura no cestinho das esmolas enquanto o menino toca, é a ceguinha que canta, é o argentino que arrasta o tango no seu acordeon ...
         Um sem fim de ingénuas manifestações artísticas, que por uma moeda, vão acrescentando história à história daquela rua com quase dois séculos, rematada pelo Arco do Triunfo.
         Já de regresso a casa, cruzei-me com uma menina que pedia esmola, à qual dedico este soneto:

Hoje fixei o meu olhar numa criança
Que a mão estendia na minha direcção
Pedindo esmola p´ra comprar o pão
Num olhar quase vazio de esperança

E eu lhe respondi com um sorriso
- Vás me dizer qual é a tua idade
-Tenho sete ! - disse com vivacidade
- Ajude-me senhora, que eu tanto preciso!

E aquela tão frágil figurinha
Escondida sob o casaco desbotado
Esboçou um sorriso de leve esperança

Porque a minha atenção , ela já tinha
E no peito eu trouxe bem gravado
O humilde e meigo olhar dessa criança.

21/12/2010
Cila

11 comentários:

Unknown disse...

Obrigado Cila pelo lindo soneto e pela descrição (infelizmente tão real)que tu fazes dessa rua de Lisboa que também infelizmente não é só essa.
O Rossio, as arcadas da Praça do Comércio são uma imagem muito degradante para a cidade que quanto a mim ,tem uma luz e beleza extraordinária, mas,é o país real que temos.
Bjs Paulinha.
Nota: esqueci-me de dizer que afinal não sou gémeos sou "touro", vá o diabo e escolha....

Anónimo disse...

Um arrepio atravessou-me a espinha
Ao ler a sua descrição
Imaginei o olhar da menina
Que decerto lhe tocou no coração

Não conheço as ruas da nossa Lisboa
Mas conheço a pobreza do nosso Portugal
Que desviamos os olhos como quem nao quer ver
A pobreza que existe e que é bem real

Quando finalmente algus ousamos fitar
Vemos e lembramos que são seres humanos
Que vivem e sonham como todos nós
E a quem nesses momentos nos entregamos

beijinhos para a minha madrinha E para todas as amigas
Vogalita Comsoância

Anónimo disse...

(ai que já nem o meu nome sei escrever... tinha uma perninha a mais)

Vogalita Consoância

Ivone disse...

-Estes são momentos que por vezes passam na nossa vida e nos tocam ...
-O encontro com essa menina e a conversa que tivestes com ela certamente que não a esquecerás e inspirou-te de tal modo que aqui está este lindo soneto .
Fizeste-me lembrar um "catraio" que me visitava todas as Sextas-Feiras e de repente deixei de vêr, que será feito desse "amigo" ,deste-me uma idéia um dia escrevo os nossos encontros .
Mas a relidade é bem como diz a Vogalita ,a maior parte de nós olha para o lado...finge não ver e por vezes até acha uma "chatice ". Esquecemo-nos que por vezes há um adulto sem escrupulos que se aproveita da qualquer coisinha que lhe deste ,este é um mundo desumano criado pelos Humanos !

jinhos
Ivone

Nídia Rocha disse...

NIDIA DISSE.
CILA LINDO SONETO,O TEU QUE FÀLA DE MAIS UMA CRIANÇA QUE,PEDE ESMOLAS.INFELISMENTE,È A REALIDADE,DESTE PAÌS.
NÒZ andamos atentas,eu tremo de dò,dou-lhes sempre um carinho,à minha maneira.À QUEM se sirvam delas e dizem que nâo as vêm chorar.
parabèns,por teres abordado este tema.bjos nidia...

Cacilda disse...

É um bom texto, um lindo e sentido poema e uma triste realidade.
Parabéns, Cila. Gostei muito. Penso que foi o teu primeiro soneto que li.
Um beijinho.

cacilda

cila disse...

Da amiga Vogalita
Não se ouviam uis nem ais
Agora quer assinar
Escreve perninhas a mais...

Aproveito para fazer
Aquilo que ainda não fiz
Desejar a si e aos seus
Um Ano Novo Feliz !

Um beijinho
Cila

Anónimo disse...

A minha madrinha sente
Por nem sempre responder
Mas quase diariamente
O blog eu venho ver

Mas não me dá muito jeito
Para pensar a rimar
Pois quando aqui espreito
Estou sempre a trabalhar

Um beijinho com carinho
Um pedido de perdão
Mas todas estas amigas
Estão no meu coração

Vogalita Consoância

cila disse...

Pode ficar descansada
Pois por mim está perdoada
Eu às vezes até me esqueço
Que já estou reformada !

À partida há tempo livre
Pois estou desocupada
Mas p´ra falar com franqueza
Não tenho tempo p´ra nada!

Tudo o que eu quiz fazer
Enquanto estive empregada
Quero tudo ao mesmo tempo
E assim continuo stressada!

Mas se a vida continua
Neste grande desassossego
Qualquer dia peço ao patrão
Para voltar ao emprego!

Beijinho
Cila

Anónimo disse...

Oh minha madrinha Cila
Se já não tem tempo para nada
Não se meta em apertos
E continue reformada

Não queira estar como eu
Pois cá estou a trabalhar
Mas tirei um bocadinho
Para convosco rimar

Mas se está desorganizada
E com falta de tempo tremenda
Aqui a sua afilhada
Oferece-lhe uma agenda

(ehehe)

beijos

Vogalita Consoância

cila disse...

Agradeço a ideia
De trazer tudo apontado
Mas para ser mais feliz
Pus a agenda de lado

Trago tudo na cabeça
Pois tudo lá quero ter
Se descanso no papel
Sou capaz de me esquecer!

Mas se acaso há esquecimento
Ao marido sobretudo
Dou uma boa desculpa
"Não me posso lembrar de tudo..."


Aprecio muito o seu bom humor.
Obrigada pela boa companhia que nos faz!

Beijinho
Cila