Quatro dias passados de animação carnavalesca, hoje é dia de enterrar o Entrudo.
Muito novinha comecei a participar nos desfiles de Carnaval embora com todas as limitações próprias da idade, pois as caras tapadas deixavam-me muito assustada.
E o quarto dia era para mim algo que me deixava o coração a bater forte.
Na altura, as ruas da vila eram mal iluminadas e toda aquele gente em funeral surgia da penumbra das esquinas, enrolada em lençóis ou em roupas muito escuras, carregando um morto - vivo num caixão a sério, ou numa cama puxada por duas rodas. A luz dos archotes que traziam na mão davam realce às máscaras dando-lhes um ar de fantasmas. Os instrumentos dando os acordes da marcha fúnebre, acompanhados dos gritos hilariantes das viúvas e das carpideiras, deixavam-me aterrorizada.
Este ritual do Carnaval deixou-me algumas cicatrizes, pois eu nunca compreendia porque é que depois de tanta alegria tudo acabava assim ?
Cá para nós, confesso que ainda hoje me causa um certo incómodo quando os ouço passar à minha rua.
Beijinho
Cila