quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

        Ontem desci  à Baixa Pombalina, onde a moda se anuncia cobrindo o corpo esguio dos manequins, que por detrás dos vidros das montras, deitam o seu olhar fixo sobre a pobreza que por ali abunda em jeito de entretenimento.
         É o homem estátua pintado de bronze, é o cão que segura no cestinho das esmolas enquanto o menino toca, é a ceguinha que canta, é o argentino que arrasta o tango no seu acordeon ...
         Um sem fim de ingénuas manifestações artísticas, que por uma moeda, vão acrescentando história à história daquela rua com quase dois séculos, rematada pelo Arco do Triunfo.
         Já de regresso a casa, cruzei-me com uma menina que pedia esmola, à qual dedico este soneto:

Hoje fixei o meu olhar numa criança
Que a mão estendia na minha direcção
Pedindo esmola p´ra comprar o pão
Num olhar quase vazio de esperança

E eu lhe respondi com um sorriso
- Vás me dizer qual é a tua idade
-Tenho sete ! - disse com vivacidade
- Ajude-me senhora, que eu tanto preciso!

E aquela tão frágil figurinha
Escondida sob o casaco desbotado
Esboçou um sorriso de leve esperança

Porque a minha atenção , ela já tinha
E no peito eu trouxe bem gravado
O humilde e meigo olhar dessa criança.

21/12/2010
Cila