sábado, 23 de outubro de 2010


Quando todas as manhãs abro a janela do meu quarto, vejo um tapete de folhas mortas que  durante a noite cairam das árvores proclamando o terminar de uma vida. O vento deixou-as cair com delicadeza até ao seu encontro final com o relvado fofo do jardim ou com o empedrado duro da rua.


 
CANÇÃO DE OUTONO

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.

Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de Outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.

Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

                                              Cecília Meireles

Imagem tirada da net